segunda-feira, 2 de agosto de 2010
sexta-feira, 30 de julho de 2010
domingo, 13 de junho de 2010
Ainda abro os livros, Pai
terça-feira, 8 de junho de 2010
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Crepuscular
contorno apenas na luz
que me fere ainda
os sentidos
arreganhados
num silêncio intemporal.
Quisera ser sombra
entre as sombras
que tombaram sobre nós.
Longe
sobram-me versos
ainda vestidos de ti
nesta obscuridade.
No silêncio crepuscular
soletro o teu nome
cristal tão fino
ancorado no meu peito.
CSC
domingo, 23 de maio de 2010
Noite II
Colado nas paredes estriadas
(que a Lua está cheia e
as persianas meio abertas)
navegas nas sombras repetidas
do meu quarto.
esqueço que Janeiro é frio
e que a noite entrou em nós:
estendo a mão para o telefone.
como se tivesses lugar-onde
e tempo para ser afluente
nesta minha obscuridade.
descubro que não há olhos
no teu rosto e
o frio é só
um limite na ponta dos dedos.
amanhã
dar-te-ei o longe o esquecimento
direi das sombras
as formas
e do silêncio
o bocejo
que o há-de quebrar.
sábado, 22 de maio de 2010
Noite I
e eu pergunto:
a noite tem mãos?
a noite vive – eu sei
sopra-me os cabelos na testa
grita alto as dores que me vivem
para eu não esquecer
depois estende a meu lado
o bolor com que me deito.
o Sol adiou o silêncio das gentes
e o orvalho foge das ervas dos meus atalhos.
ressequidos já os ecos dos meus sonhos.
e insisto:
que mãos vazias tem a noite
que nada me deu?!
CSC, Julho de 1985
segunda-feira, 17 de maio de 2010
"O Sorriso Enigmático do Javali", de António Manuel Venda

Gostaria de ter estado no sábado à tarde na Feira do Livro, no"stand" da Quetzal - estava lá António Manuel Venda. Queria cumprimentá-lo e comprar o seu novo livro. Mas não pude. Passei por lá mais tarde - foi mesmo pouco mais que uma passagem: estava frio. Fui directamente à Quetzal. Não, não sabiam se tinham o livro!
- Já está disponível online e deveria ser distribuído ontem nas livrarias - acrescentei.
- Só se for ali atrás, onde estão as novidades...
E estava, claro. A parede esquerda cheiinha de sorrisos, que é como quem diz, forrada com exemplares de "O Sorriso Enigmático do Javali". Um veio comigo.
Que agradável leitura! Que tranquilidade vivemos no montado, que inquietações partilhamos com o pequeno Tukie, de tão próximo nos sentarmos a seu lado. É uma imensa ternura pelo pequeno Tukie o que sentimos quando acaba por adormecer. Já a vínhamos experimentando desde o princípio, quando partilhamos a aventura e o espanto por detrás da objectiva da máquina fotográfica.
Deixemos descansar o pequeno Tukie, que ainda agora adormeceu. E a mãe e a bebé, que já dormiam antes de a rela vir dar corpo à última aventura.
Mas amanhã, teremos de nos juntar ao pequeno Tukie.
Dizer baixinho o nome da gineta.
Acreditar que o lagarto sabe desenhar.
Guardar um exército numa borboleta colorida.
Queremos saber tudo. O javali parou ou curou-se da doideira?
Porque tem o deputado apenas uma parte da cabeça?
Por que é que os políticos são mentirosos?
Ah, e quem dera deixar todas as cobras no estendal!
sexta-feira, 14 de maio de 2010
As tuas mãos
Quis pegar-te mas mãos, tu não estavas e eu sabia, só não queria lembrar. Fui pondo rótulos bonitos em tudo quanto não sei dizer.
“Despem-se as árvores”, eu sei, “e foi o sol quem se perdeu”, mas descubro nesses dias as minhas ausências.
Sem pena.
“Dá-me as mãos”, diria, “e serei um pouco mais”.
Mas tudo isso é ainda medo e ainda pudor.
“Dá-me as mãos”. Sim, mas quero ser muito mais.
O meu tempo é este, tu sabes, não o posso perder. Hei-de um dia encontrar as palavras que agora não.
Virão ter comigo quando me olhares olhando por mim.
Setembro. 1993
terça-feira, 11 de maio de 2010
Luz inquieta
havia nas tuas palavras uma luz inquieta
que nas minhas mãos anoitecidas ganhou cor.
indefinidos ainda os teus olhos nos meus
guardarei no silêncio de cada manhã
o calor apenas pressentido dos gestos.
Lx, 17 de Março de 2004
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Quatro décadas - e eu só queria acordar

À memória de meu Pai, a quem doía tanto o Dia da Mãe.
À Inês, ao Vasco, à Marta, ao Filipe e ao Afonso, que não conheceram os Avós.
Era um pesadelo, mãe, e eu só queria acordar. Abria os olhos, estava muito calor e aquele quarto escuro não era o meu. O cheiro que chegava do jardim não era o cheiro de nossa casa. Ali, de meu só tinha o pequeno Rei Luís, adormecido há pouco, chorando, agarrado ao meu braço.
E onde estava o Tony? E onde estava o João?
Tudo tão diferente, mãe, mas o mais estranho de tudo era o silêncio. Porque no final dos nossos pesadelos nascia sempre a voz da mãe ou do pai para nos salvar de qualquer ser estranho que nos atormentasse. Naquela noite, o silêncio ganhava corpo, com forma e um odor que se adivinhava pestilento, por sobre o aroma forte das flores daquele jardim que não era nosso.
Quando amanheceu e comecei a acreditar que, finalmente, voltaríamos a casa para ouvir uma história – porque já era domingo, mãe –, um fato negro entrou, chegou junto de mim e falou. Tinha uma voz lenta e estranha, tão estranha e tão parecida com a do pai! Mas era um fato negro alto, muito mais alto que o pai e ainda mais magro e dizia coisas tão esquisitas como a voz que soava familiar:
̶ Queres ir ao funeral?
De repente, o cheiro do jardim asfixiou-me e o silêncio amarrou-me àquele fato negro que tinha a voz de meu pai.
Na sala ao lado, alguém falou e ouvi o meu Rei Luís:
̶ Quatro, tenho quatro anos.
Aconteceu uma coisa importante nesse dia, mãe, e ninguém deu por nada. Como é que só eu, tão pequena, percebi, ó mãe?! Nesse dia, Deus morreu.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Risco
porque deles se faz o desafio
e enquanto te espero
e enquanto te adivinho
entrego-te as margens do sonho
e o leito da alma.
aprendo a contrabandear destinos
com risos dobrados
pla noite dentro.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Feira do Livro de Lisboa
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Para Fátima - e todas as pessoas que já só existem na nossa memória
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Onde o esquecimento
"dizias: tudo isto vai passar e verás que o pesadelo tem os limites do esquecimento mas que sabemos nós da memória colectiva?" José Antunes Ribeiro, in Rio do Esquecimento, 1993
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Alícia
quinta-feira, 15 de abril de 2010
"Meia Hora Para Mudar a Minha Vida"
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Abandono
houvesse uma gota
um breve sinal
diria Talvez volte amanhã.
terão sangue as coisas
que eu já não
trocaremos um dia
restos velharias
e um fruto apodrecido:
tão súbita a transparência
o abandono.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
"Pare, escute, olhe"
Crer
segunda-feira, 5 de abril de 2010
domingo, 4 de abril de 2010
Esta forma de passar pelas coisas ruins
Naquele ano, mais do que em qualquer outro, o primeiro dia de aulas foi muito especial para mim. Retomava o contacto com o grupo do ano anterior e, pela primeira vez, fazia-o na qualidade de quase-mãe. Sentia que ia ser diferente a minha relação com os miúdos, alterada profundamente por uma outra, a que se estabelecera já entre mim e o bebé. Haveria agora uma cumplicidade maior, uma ternura mais forte, uma vontade grande de os olhar nos olhos, de deixar que sentissem do lado de cá a mãe e me revelassem a verdade apenas pressentida do meu próprio filho.
Passada a habitual agitação da entrada, sentei-me para conversar com a minha gente. Logo, logo, o João Paulo, amigo de colo e ternurinhas, saltou do seu lugar e veio ao meu encontro.
− Ah, não, João! Fizeste 7 anos, estás um homem, és já muito grande para vir ao colo...
E ele, naquele jeito sempre risonho de ser:
− Eu estou grande, é? E o teu colo está mais pequeno!
Tive nesse momento a certeza de que tudo ia ser bom: estava gerada a nossa nova cumplicidade.
Chamaram-me, a seguir, para ir receber um aluno recém-chegado, transferido de um colégio. Foi então que conheci o Humberto. E também a mãe do Humberto, que, falando devagar e com forte sotaque algarvio, me contou em poucas palavras a longa história do seu menino de 8 anos.
− O Humberto chumbou no ano passado, tem tido muitos problemas. Teve um acidente aos 3 anos, ficou com este problema no olho... – eu olhei uma vez mais o pequenito, que, por detrás dos óculos escuros, escondia um olho esbranquiçado, enorme e saliente. A mãe continuava:
− Nunca mais pôde ter uma vida normal: já fez sete operações sem resultado nenhum. Não pode correr nem brincar à vontade, porque a tensão no olho aumenta logo, fica cheio de dores e tem que ficar na cama, às escuras. Tudo isto o tem afectado muito; entre as operações e os tratamentos, já fez catorze anestesias gerais, ressente-se disso e de vez em quando tem crises de amnésia. É uma criança meiga e cheia de vida, mas não pode dar largas à sua energia, tem dificuldade em aceitar a situação e fica nervoso. O meu filho é muito nervoso.
Virei-me para o Humberto, meio curiosa, meio assustada. Como iria ser a nossa vida em conjunto? Seríamos capazes de criar condições para que ele se desenvolvesse harmoniosamente, com aquele condicionalismo físico? Sentia que tinha ali um desafio. Teria que conseguir «agarrar» aquela criança. E teria que dar força a esta mãe. O bebé dava voltas e voltas, enquanto durou a nossa conversa, e isso para mim era como que um empurrão: «Precisas conseguir, mãe!». Não era apenas a questão de uma responsabilidade que me chegava por via profissional: era a solidariedade que se impunha. Para com uma criança que já fora um nó no ventre, como o que eu afagava então. Para com aquela mulher que ali estava diante de mim, entregando-me a voz da sua dor. Uma dor que, sentia-o, a dominava por inteiro. E parecia-me, no entanto, que era essa mesma dor que a mantinha de pé, que lhe dava força, sempre mais força. Por um filho, temos sempre mais força do que a que julgamos possuir.
Afinal, foi tudo mais fácil do que eu julgava. Tivemos, o Humberto e eu, a ajuda incondicional e espontânea do resto da turma. Todos aceitaram bem o Humberto e foram amigos, companheiros de folia, aquilo que ele precisava de encontrar. De vez em quando, um pouco de excesso nas brincadeiras levava-o a ficar em casa, repousando, mas, de uma maneira ou de outra, o Humberto evoluiu no sentido de uma vida como a de outro miúdo da sua idade. E deixou os óculos escuros.
Há algum tempo, a mãe veio ter comigo. Mais angustiada ainda, aterrorizada com a perspectiva de, em breve, o pequenito ter que extrair aquele olho. Mais do que a operação, o que a assustava era a forma como o filho a iria aceitar e ao período de adaptação. Durante algum tempo, ele não sabia desta decisão dos médicos. Até que um dia me disse:
− Senhora professora, vou ter que faltar um tempo. Vou fazer uma operação para tirar o olho.
Foi nesse dia que me contou outros pormenores:
− Eu tinha 3 anos e vi o meu irmão a brincar com uns amigos e pedi à minha mãe para ir ter com o meu irmão. A minha mãe disse que podia ir. Quando eu ia a atravessar a estrada, um menino atirou-me um tijolo. Demorei muito a chegar ao hospital e aí comecei a choramingar e o homem deu-me dois estalos. Depois foi a operação, e o olho foi mal cosido. Por isso fiquei assim. Mas agora vou fazer uma operação, que é a prótese, eu acho que vai ser bom para mim, porque depois eu não preciso preocupar-me com o meu olho…
Ouvia-o emocionada, admirada com a maturidade com que ele me falou das implicações de ter ou não ter a prótese, dos sonhos que espera realizar quando puder mexer-se à vontade no espaço. Digo no espaço, porque no tempo mexe-se ele à vontade. As crianças têm esta vantagem sobre nós, esta grande capacidade de adaptação a tudo o que é novo, esta forma de passar pelas coisas ruins com um pé já adiante, à procura do que está mais além.
Eu gosto do Humberto e dos outros garotos, trabalhamos e divertimo-nos à grande. Rimo-nos da cara do Humberto, corado, corado, quando lhe pergunto pela namorada.
− Eu vou brincar para a praceta, eu gosto da miúda e aos sábados encontro-me sempre com ela no baile.
DN Jovem, Maio 1988
domingo, 21 de março de 2010
Alice no País da Poesia
Ainda antes de conhecer Alice Vieira, admirava-a pela enorme disponibilidade e por uma capacidade de comunicação que - tímida como eu era então - me espantava. Das suas qualidades de escritora, fala a carreira, melhor que eu. Mas hoje, Dia da Poesia encostadinho ao do seu aniversário, é de Alice no País da Poesia que prefiro falar.
"Guarda-me adormecida para sempre no teu peito
ou deixa-me voar uma vez maissobre esta terra de ninguém
onde morro por qualquer coisa que me fale de ti.
Há noites assim em que o silêncio se transforma
ao de leve numa lâmina que minuciosamente
rasga o linho onde ficou esquecido
o corpo que habitamos
em provisórias madrugadas felizes...
Depois é só abrir os braços e acreditar
que ainda faltam muitas horas para a partida
e que à-toa pelos corredores ainda escorre
uma razão primeira a trazer-me de volta.
E eu adormecida para sempre no teu peito.
E eu acorrentada para sempre no teu peito.
E de novo entre nós aquele choro de quem
não teve tempo de preparar a despedida
com as palavras certas;
porque as palavras certas
estavam todas em histórias erradas
que outros escreveram em lugares nublados
que nem vale a pena tentar recompor.
Muito ao longe uma voz desgarrada
estabelece o fim do verão...
E eu adormecida para sempre no teu peito
e eu acorrentada para sempre no teu peito..."
in Dois Corpos Tombando na Água
Desnorte
pedes-me um poema
em que te fale do amanhecer
que nele se sinta o sol
a tocar-nos
que juntos possamos sentir
o nascer do dia
e que não esqueça
uma brisa fresca
ah e uma névoa espraiada
sobre o vale
pedes-me um poema
a mim que anoiteci de repente?!
guardarei os versos sincopados
que me inscreves na alma
quem sabe a teu lado
voltarei a amanhecer
buscando as palavras
encostar-me-ei no teu peito
até chegar o sol do meio-dia
e as sombras dizerem do sul
o desnorte do meu querer.
quarta-feira, 17 de março de 2010
Abandono
segunda-feira, 8 de março de 2010
Para a minha filha
o meu corpo foi Verão foi Alentejo
fiz das coisas simples a minha casa
quis o Sol desejei a chuva
na minha pele a seara
à espera da ceifa em tempo certo
tu foste o fruto grão redondinho
em Janeiro porque não?
nestas mãos em concha
és a água toda
que a minha sede requer.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Um Homem Singular

sábado, 27 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
...
