sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

De rosas não sei

davas-me rosas.

às vezes davas-me rosas.

os olhos e o silêncio

vertias nas minhas mãos às vezes.

quando depois as luzes fugidias

me entregavam na noite em ti

eu dizia, Quero trazer à superfície

os espelhos que melhor te desenham.

eu dizia, Não é um sopro

a embriaguez que trago em mim.

eu dizia, Hei-de colher no teu peito

a linha exacta do meu horizonte.

não me ouvias. ou esqueceste. não sei.

não sei.

eram cheias as vinhas

e o sol ausentava-se devagar.

setembro talvez.

despedi-me uma manhã.

agora a mesa está vazia

e tenho nas mãos um cacho sem sabor.

de rosas não sei.


Publicado na revista Ara Gris (N.º 2, Janeiro de 1986)

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